domingo, 23 de março de 2014

Boletim de Reapripriação

   O Lobo está aqui e decidimos falar sobre a nossa reapropriação do conceito de amor, porque isso é importante e pragmático e está acontecendo.

   Resolvi que essa coisa de amor era realmente necessária porque tem um aspecto ruim dos meus afetos que a palavra amor permite expressar... é tipo... como se eu precisasse descarregar um peso. Quem me lê de vez em quando, por aqui, já deve ter sacado... eu... preciso chorar no ombro de algum gatinho, dançar pra ele, ser querida, receber um carinho. Não sei se é como se fosse a minha vontade de submeter ou se é como se fosse o resíduo da minha destruição dos velhos conceitos.

    Parto de uma experiência (é em que penso agora que posso confiar): sinto que existe uma coisa além do desejo a que eu preciso dar atenção e pra isso eu preciso de um gatinho e ele tem que ter algumas características. Tem a ver com merdas da minha forma de ser, provavelmente, com carregamentos de mentiras que eu engulo.

    Vou chamar essa merda, tanto o possível fenômeno (precisar descarregar uma coisa inominável em uma relação com um ser que precisa ter algumas características distintas) quanto meu sentimento a esse respeito, de amor.
   Nesse sentido, me oponho à antiga forma de conceber amor do Romeu: ele dizia que Amor era Idîn, união pura. Não acho isso. Amor é isso que eu falei.

   Se eu disser "amor", minha providência vai ser explicar o que é amor pro meu interlocutor, sempre e sempre. Vou evitar essa palavra, porque as pessoas sempre esquecem do que a gente está falando, inclusive a gente mesma. Mas vou usá-la quando for necessário. E então vou descarregar essas lágrimas que precisam sair, lixo-social, resíduo de relação dependência que me atravessa.

    Tomarei cuidado, porque não posso tornar esse descarregamento num fim em si mesmo... "amar é ontologicamente bom". Não, não. Amar é bom em alguns contextos específicos. Queria apenas desejar, se isso não fosse ignorância. Queria que não houvesse resíduo. Queria não ter dor pra compartilhar. Mas tenho. A gente tem. E tudo bem. Mas as relações que eu quero construir não devem ser apenas amor, compartilhamento de dores, de resíduos de atravessamentos indesejáveis. Devem buscar evoluções e revoluções.

   O que acontece é que, em geral, pras pessoas que criam conceitos específicos pro amor, elas acabam usando o amor de dois jeitos: um deles é o que criaram, geralmente melhor, instituinte, crítico. Mas, por forças do atravessamento, acabam usando o amor do jeito tradicional, tanto porque as outras pessoas todas entendem assim (afinal, é a mesma palavra, de qualquer forma), quanto porque elas mesmas acabam regredindo à forma de amor tradicional pela força que isso ainda tem nas suas práticas conscientes e/ou inconscientes.

    Por isso que não vou me deixar fazer isso.
    Por isso que sempre que eu disser amor, vou dizer "amor, que eu entendo como "poder compartilhar a dor, o resíduo, o indesejável, etc.";
    É ruim, e é escroto, e é o que só se pode compartilhar quando se tem a certeza de não precisar ser vendido;

    Abraçocas e lambidas,
    da Lilá e do Lobo (na coleira);

    Amo vocês
    (no sentido de amor que eu falei antes)

Nenhum comentário:

Postar um comentário